Um dia depois
das comemorações do trigésimo oitavo aniversário do 25 de Abril, atrevo-me a
proferir que somos todos “Filhos de Abril”. As conquistas de Abril estão, ou
deveriam estar vivas dentro de nós, quase tudo o que hoje temos foi fruto dos três
“D” de Abril, Descolonizar, Democratizar, Desenvolver.
O fim da guerra colonial
e a respectiva descolonização foi o primeiro objectivo a ser concretizado, bem
ou mal, foi feito e assim evitou-se o continuar de uma situação muito
penalizadora para o País, do ponto de vista social e económico.
Actualmente
Portugal possui óptimas relações com todos os países que outrora foram colónias
e estes representam uma mais-valia para a recuperação económica, pois são
parceiros económicos por excelência de Portugal, fruto de uma ligação histórica
alicerçada numa língua em comum.
A Democracia foi
o segundo objectivo a ser cumprido, apesar de uns primeiros anos atribulados,
como é normal num período pós-revolucionário. Portugal conseguiu evoluir para
uma democracia estável. Contudo como em todas as democracias não podemos “dormir”
à sombra do adquirido, é necessário continuar a trabalhar a nossa democracia,
aprofunda-la e trazer as gerações mais jovens para os ideais democráticos,
fomentando uma participação activa nos processos de decisão quer seja através dos
partidos políticos ou da sociedade civil.
O
Desenvolvimento, este objectivo está tão presente hoje como esteve no dia 25 de
Abril de 1974. Desenvolver o País é algo que nunca é totalmente atingido, não
existe países completamente desenvolvidos, existe sempre a necessidade de fazer
mais e melhor.
Conseguimos nos últimos
38 anos grandes vitórias ao nível do desenvolvimento, o Sistema nacional de Saúde,
que em muito contribui para ao aumento da esperança de vida, para a diminuição da
taxa de mortalidade infantil, para as melhorias da qualidade de vida, etc.
A escolaridade,
actualmente somos um país com mais e melhores qualificações a todos os níveis,
temos uma boa escola pública, bem equipada, na sua generalidade, com docentes
bem formados e capazes de fazer sobressair o que de melhor têm os nossos
Jovens.
Podia continuar
a falar das vitórias, pois são muitas mais, mas o mais importante actualmente é
garantir que todo este esforço não foi em vão, é preciso continuar a apostar no
desenvolvimento do Pais, é preciso fomentar o desenvolvimento económico como
garantia de sustentabilidade para o que consideramos o estado social. Não
podemos continuar a apostar só no equilíbrio das contas públicas pela via da
austeridade, temos de apostas no equilíbrio das contas públicas também pela via
do desenvolvimento.
Foi por esta
razão que considero o discurso proferido ontem pelo Presidente da República, Professor
Cavaco Silva, como sendo um dos mais fracos que tenho memória, foi centrado
simplesmente na necessidade da melhoria da nossa imagem externa, e na coesão
social. Este discurso quando comparado com o de à um ano é quase contraditório
à vista do que aconteceu nos últimos meses. Faltou chama, faltou aquilo a que
ele chama magistratura de influência, num país onde cada vez mais se assiste a
desigualdades sociais e ao desaparecimento da classe média. Estava à espera de
um discurso mais interventivo e virado para dentro, para os sacrifícios que
temos feito, e para a necessidade de estes serem equilibrados com o “D” de
desenvolvimento. Faltou um alerta ao governo para que olhe não só para os mercados,
mas também para as pessoas, faltou uma luz, que nos indique o fundo do túnel.